terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pedasí

Como se chamará esta praia?

Este fim-de-semana foi prolongado aqui por estas paragens e então decidimos partir à descoberta de Pedasí, em alegre companha. Fomos com alguns portugueses que estão cá, todos mais ou menos na mesma situação que nós. E assim fomos, oito adultos, quatro crianças, quatro carros, creio que mais que um leitor de DVD, uma gigante garrafa de rum e várias de coca-cola, por esses caminhos do Panamá.

Pedasí fica na costa do Pacífico, a cerca de 300km da Cidade do Panamá. A viagem demora entre quatro e cinco horas, dependendo do número de paragens necessárias para aguentar a jornada. Até Divisa, o caminho é feito em "auto-estrada" - as aspas referem-se ao mau traçado, ao péssimo pavimento, à sinalização praticamente inexistente e ao facto de a estrada passar no meio das povoações. Em Divisa, faz-se o desvio para sul e entra-se na porção de território panamenho designada por Península de Azuero. A estrada é nacional, bastante boa na maioria do seu trajecto, mas com buracos e obras noutras partes. Enfim, por alguma razão nos recomendaram muito que comprássemos um carro com tracção às quatro rodas - e foi o melhor que fizemos.

Adiante. Pedasí é uma aldeia pequenina e arranjadinha, bonita e acolhedora, cheia de alojamentos turísticos rústicos e bem integrados na paisagem. Nas praias à volta da aldeia encontram-se os aldeamentos turísticos: uns em construção; outros já construídos. Todos os que vi - mas todos mesmo - muito bonitos e arranjados, com uma arquitectura bem integrada na paisagem. No nosso caso, ficámos muito bem instalados nos Azuero Ocean Lofts. A dois passinhos de uma praia deserta bem batida de ondas, com uma piscina, pequena mas agradável, e uma integração na paisagem muito cuidada, este lugar é muito recomendável. Fica a uns 10km da aldeia (e, por conseguinte, dos restaurantes), mas é muito tranquilo.

Playa Arenal, Pedasí, Panamá

As praias são quase exclusivamente de areia escura, exceptuando as da maravilhosa Ilha Iguana, reserva natural acessível por lancha. Aqui existe um banco de coral que aparentemente é muito raro nas costas do Pacífico e, por essa razão, a areia é um pó branquinho e delicioso, aqui e ali salpicada por pedaços grandes de coral que fazem uma "exfoliação" talvez um pouco brusca. Chamemos-lhe exfoliação, portanto, e ninguém precisa de saber os palavrões que me passaram pela cabeça quando os pisei, inadvertidamente.


going to Isla Iguana, near Pedasí, Panamá

Por ser Domingo, a ilha tinha muita freguesia - e ter freguesia, aqui, significa música aos berros e toda, mas toda a gente de cerveja ou outra bebida na mão. Jogar às raquetes? Isso é coisa de portugueses frouxinhos...!

É uma ilha bonita, sim, senhores leitores, mas é também vítima de um mal muito local, que é o lixo por todo o lado. Lixo no meio do bosque, lixo a flutuar na água. É um horror, mas parece-me que é um fenómeno panamenho: não há abundância de caixotes de lixo nem prevalece a cultura de cuidar o património, começando por não sujar.

The best meal of the weekend: fish with patacón

Mudando radicalmente de tema para coisas bem mais interessantes, vamos ao que interessa: a comida. O peixe é fresco, fresquinho, e até na choça à beira da praia se serve um prato bem servido de filetes de peixe com patacón. Foi, muito provavelmente, a melhor refeição do fim-de-semana.

Em Pedasí urbano temos o Isla Iguana (bom peixe, sim, senhores, umas amêijoas com alho e gengibre bem deliciosas) e o Pasta e Vino (pasta despretensiosa e bem confeccionada, a preços justos).

Um bom fim-de-semana, óptimo para sair da cidade e descansar. Até parece que estive de férias!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

O número de Novembro já anda no ar!

"We´re in Panama!" issue #6, November 2010

Ora para quem não se apercebeu, ali para as bandas do meu outro blog já foi lançado o número de Novembro da zine. Desta vez com pedido especial! Explico: vou fazer uma apresentação sobre a zine aqui no Panamá e gostaria de ter fotografias da zine tiradas pelos leitores: quer sejam "zine parties" ou leituras mais tranquilas, mandem-me as vossas fotografias da zine pelo mundo. As melhores serão publicadas aqui e incluídas na apresentação.

Obrigada!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Entre o Panamá e Buenos Aires

Floralis Generica, Buenos Aires

Seis meses depois da partida, voltei a Buenos Aires para cinco dias de jacarandás em flor, muitos passeios a pé e muitos, muitos mimos das amizades que fiz nos meus anos por lá. Não visitei nenhum museu (e olá se tenho um déficit de cultura) nem conheci lugares novos, mas revi os meus preferidos (como a flor, acima) e, sobretudo, sentei-me à sombra lilás que agora inunda a cidade. Novembro é o meu mês preferido em Buenos Aires, e tive a sorte de lá poder ir.

Passei pela minha antiga rua e falei com a minha querida porteira - e amiga; visitei o ginásio e falei com as companheiras de sofrimento na aula de pilates. Revi tricotadeiras e partilhei chazinho e bolo; visitei a minha antiga aula de pintura, cheguei no intervalo e daí passámos ao chá, do primeiro chá ao segundo, e do segundo ao jantar.

Visiting my former painting class

Notei a louca inflação, que duplicou preços entre Maio e Novembro; vi as mudanças na demografia da noite, alguns restaurantes fechados e muito menos gente nos restaurantes da moda. Jantar fora está muito caro.

Iglesia del Pilar, Buenos Aires

Adorei não ter calor de noite nem sentir humidade no ar. E sobretudo - ou apesar de tudo - adorei a sensação de voltar a casa, uma casa que já foi minha, já não é minha, mas sempre estará no meu coração.

Nos vemos!

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Depois das estrelas no céu...

Estrelas do mar em Bocas del Toro, Panamá

Estrelas do mar em Bocas del Toro, Panamá

Estrelas do mar em Bocas del Toro, Panamá

...umas estrelas no mar, só porque sim.

Estas estrelinhas vivem alegremente na praia apropriadamente denominada de "praia das estrelas do mar", na Isla Colón, no arquipélago de Bocas del Toro, aqui mesmo no Panamá.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Mais uma estrela no céu

Pensava eu que ia passar uns ociosos 5 dias em que podia escolher alegremente as actividades que me aprouvessem: ora costura, ora tricot, ora pintura... enfim, o que me apetecesse, quando me apetecesse.

Mas não. Surgiu um trabalho, adiantaram-me uma entrega, e como tal estive alegremente no expediente como se de dias normais se tratassem. Não me queixo, mas digamos que não era bem o que eu tinha organizado.

A pior notícia foi, infelizmente, a da morte do pequeno Afonso, filho de ex-colegas da escola, de uma leucemia que o atacou forte e feio. Fiquei muito triste - não sendo mãe, senti-me também um pouco mãe ao chorar a partida desta criança. Lembrei-me de todos os amigos que partiram antes do tempo e que tanta saudade deixaram. E lembrei-me também dos sobreviventes, que felizmente vão sendo muitos, e que cuja presença alegra os nossos dias.

O Afonso morreu mas o seu legado - graças à sua boa-disposição e aos esforços férreos da sua mãe e demais família - é o de o nosso país ser agora o quarto, a nível mundial!, em número de dadores de medula. Gente, somos só dez milhões, mas somos o quarto país! Graças ao Afonso e família, e graças também a todos os outros que se dão ao trabalho de organizar, dinamizar, difundir acções de recolha e à disponibilidade das equipas móveis. Todos, todos perdemos um lutador, mas todos, todos nos solidarizamos com esta causa. Isto é o melhor que tem o ser humano - e nós, nem sempre, mas muitas vezes, somos assim.

Afonso, serás recordado. Graça, um grande, grande abraço.

(Aqui, a notícia no telejornal.)

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Quando um bom insulto vem mesmo a jeito

Quase todos os feriados panamenhos se concentram precisamente esta semana. Tudo, tudo fecha para celebrar as festas da nacionalidade, das independências primeiro da Espanha e depois da Colômbia.

Sabendo isso, no fim-de-semana passado fui comprar uns tecidos que tinha debaixo de mira para poder realizar uns determinados lavores femininos. Umas fronhas para as almofadas do sofá, uns guardanapos bem giros, enfim, coisas bastante adequadas às minhas capacidades costureiras inciantes.

De maneira que assim fomos os dois, alegremente, até uma loja num bairro do centro que tem estes tecidos com motivos tradicionais dos índios Kuna - não que a loja seja de índios Kuna, essa é outra história.

A compra processa-se assim: somos perseguidos por uma das assistentes enquanto escolhemos - se temos sorte, a perseguição é simpática. Escolhemos, ela corta, escreve o valor num papelinho, e deixa mercadoria e respectivo papelinho num balcão onde uma outra pessoa chama o freguês por "de quem são estes cortes de tecido?". Pagamos, a pessoa ensaca a mercadoria e siga para bingo.

Ora parece que cá há uma certa tendência para enfiar tudo em sacos de plástico, mas daqueles que nem sequer têm asas nem nada, fechá-los, e agrafar-lhes o talão de caixa. Porquê? Porque la mercancía tiene que salir de la tienda así. Eu agradeci mas disse que não queria o saco de plástico, que tinha um saco perfeitamente aceitável comigo. Além disso, tendo o talão comigo já provava que tinha pago os tecidos, certo?

Que no, que no, que no. Seguiu-se uma tentativa minha de lhe explicar que não queria o saco porque não era ecológico nem fazia sentido, ao que ele respondeu a mítica frase:

Yo no soy ecologista. E soltou uma risada.

Embalou tudo, agrafou, e deu-me o pacote. Eu estava incrédula, só conseguia repetir que não era ecologista, que era palerma. O Príncipe segurava-me a mão e puxava-me gentilmente para fora da loja.

Como o próprio Príncipe disse nesse momento, não há como o espanhol rioplatense (leia-se: "argentino") para insultar alguém. E se os anos em Buenos Aires me deixaram alguma coisa - para além do sotaque portenho -, foi esse tipo de vocabulário.

Ah, alívio.