quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Reunioes II

Outra característica do português, amante da reunião, é o facto de - apesar de tanto a amar - não a preparar.
Aqui há uns tempos fui a uma reunião em que esperava a aprovação de algumas propostas. Durante três horas, entraram e saíram interlocutores e ninguém aprovou nada, porque ninguém tinha "poder de decisão" para aprovar o que quer que fosse.
Algum tempo depois fui convocada para uma outra reunião. Já estava "escaldada" da experiência, portanto perguntei qual era a ordem dos trabalhos.
A resposta foi:

(silêncio)

(pigarreio)

"Ordem dos trabalhos? Eh... Ah, pode ser para fazer o ponto da situação."

Reunioes

O português gosta de reuniões.
Quanto mais longas, melhor. E então se passarem por cima da hora do almoço, melhor ainda: salientam o espírito de sacríficio de quem reúne. E quem reúne... trabalha!
Uma reunião longa, mesmo sem ordem dos trabalhos e preenchida de converseta sobre a família, as férias na neve e o fim-de-semana passado, é sinónimo de "muito trabalho". Uma reunião curta é como se nos estivessem a "despachar".
E a reunião pontual? Ui!, isso é sinónimo de intransigência: "mas julgas que estamos na Alemanha ou quê?". E todos sabemos que, se há coisa que o português não quer ser, é intransigente (nem alemão, ainda para mais a falar "essa língua de trapos"). A mim, parece-me que a eficiência e a pontualidade vêm de mãos dadas com esta intransigência, que também se poderia chamar "rigor".

domingo, 26 de novembro de 2006

Mnham II

Hoje almoçámos "iam tchá" no restaurante chinês do Casino Estoril. Para além do "dim sum", pedimos ainda massa de fita larga com carne de vaca (algo como "cong chau ngau hoc") e arroz chau chau, encomendando-nos respectivamente a uma "longa vida" cheia de "dinheiro". Complementámos ainda com um prato de vieiras com espargos e outro de legumes chineses variados. Com muita raiz de lótus, para fazer bem à pele.
Ensonada e afundada numa cadeira de crescidos com uma almofada debaixo do rabo, a Carolina imitava-nos com os pauzinhos, dando de comer a quem estivesse por perto. Enquanto isso, pedia "papa" à Mamã, e certificava a sua qualidade com expressivos "mnham mnham!".
Terminei com um pudim de manga do além, ou melhor, com O pudim de manga (tento conter a actividade das minhas glândulas salivares, protecção do teclado oblige). Agora tenho de ganhar coragem para arrumar a minha casa e "desmoer" o almoço... de preferência antes do jantar.

Mnham

Acabei ontem de ler "Fortune´s Rocks" de Anita Shreve. Está cheio de palavras saborosas como "chignon", "petticoat", "muslin" e "stockings". Mnham mnham.

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Ainda sobre os clientes

Ou, mais especificamente, sobre a relação dos designers com os clientes, li hoje este artigo de Guillermo Brea e faço o meu exame de consciência e respectivo acto de contrição (para continuar com a metáfora religiosa que o autor sugere).

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Notas

Às vezes penso que os clientes podem ser classificados de um a cinco, como na escola. Um ou dois - vá lá - aos piorzinhos, aqueles que não aprovam as propostas, fornecem o material todo desorganizado (ou imagens em documentos word!), regateiam orçamentos e ainda por cima atrasam-se nos pagamentos. Enfim, aqueles clientes que reúnem todas estas características chatinhas e que merecem um puxão de orelhas. E que nos telefonam e pedem "o quadradinho um bocadinho mais para a direita" ou então "a fotografia do nosso director um bocado mais ampliada". E depois os outros, aqueles que merecem o cinco: o material todo organizado, ficheiros em alta, tabelinhas excel com a ordem dos logótipos dos patrocinadores e ainda por cima são simpáticos e não querem reuniões a toda a hora (daquelas em que nada se discute). São os que nos apresentam o problema, esperam que executemos o nosso trabalho e cujas correcções melhoram francamente o resultado final. Sim, existem clientes desses! Só que nem toda a gente tem a sorte de os encontrar...

A Grande Vantagem

A vantagem dos carros estacionados em cima dos passeios é que assim não pisamos os cocós dos canídeos.

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Chegada a Buenos Aires


Esta é a chegada de barco a Buenos Aires.

Lisboa


Uma das minhas vistas preferidas de Lisboa. Com céu limpo, vê-se até à Serra da Arrábida. Mas para mim o mais impressionante é como a paisagem muda todos os dias.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Fumo

Após dois meses de América Latina, desabituei-me por completo (foi fácil!) do incómodo de sentir o fumo do cigarro alheio. Na Argentina, no Chile e no Uruguai é proibido fumar dentro dos espaços públicos fechados. Para quem não acredita e acha que esta medida é fundamentalista, a verdade é que é muito, muito cómodo ir a um restaurante, a um bar ou a uma discoteca e sair de lá com o cabelo a cheirar a champô e a roupa a cheirar a roupa - ou a suor, vá.
Segunda-feira fui ao cinema e já não me lembrava da compulsão que leva os fumadores a acender o cigarro assim que transpõem a porta da sala. Gera-se uma tremenda nuvem de fumo que, honestamente, não sei como é que as pessoas suportam. Será que é assim tão difícil esperar mais três minutos para chegar à rua e acender o cigarro? Caminhando da porta do cinema para a porta do Monumental demora-se, em passo lento, não mais de três minutos. Depois de um filme de duas horas e meia, o que são três minutos?
Não entendo toda a discussão sobre a proibição do fumo nos espaços públicos fechados. Não acredito que os restaurantes, os bares, as discotecas e os centros comerciais percam clientela por causa disso. Aliás, confirmei isso mesmo na Argentina, onde a lei entrou em vigor dia 1 de Outubro. Vi o antes e o depois e a verdade é que as pessoas continuam a frequentar os mesmos lugares. No final, até os fumadores apreciam a medida porque assim fumam só o seu cigarro, não o dos outros.

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Concursos

Estive a ler o anúncio (e os respectivos comentários) para um concurso promovido pela revista New York para uma vinheta, publicado no blog "Speak Up". É inevitável pensar que quem promove o concurso está a tentar encontrar uma série de alternativas baratas, promovendo a filosofia do tudo ou nada: quando se ganha, é-se publicado; quando se perde, as horas investidas no trabalho são deitadas à rua.
Infelizmente, neste momento esta tem sido uma modalidade de recrutamento de novos designers em franco crescimento. Quem procurou trabalho novo nos últimos tempos sabe disso.
No entanto, parece-me que este concurso surge como uma oportunidade para todos aqueles designers que não são conhecidos o suficiente para serem convidados pelos editores a desenhar uma bela vinheta para a sua rubrica. E, quem sabe, a figurar na lista de "designers a convidar no futuro". Talvez este facto o afaste da situação perversa do empregador que quer ver provas do trabalho do designer, desvalorizando-o, e o transforme numa verdadeira oportunidade para nós. Mas só talvez.

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

A Carolina


A Carolina é a minha sobrinha. Nasceu há quase dois anos e é aquário, como eu.
Gosta de desenhar, de andar de triciclo e de ajudar o Avô António a regar as plantas e até já sabe como se faz para cheirar os manjericos.
Adora as palavras terminadas em "inho" ou "inha" e diz, como se fosse crescida, "leitinho", "meinha", "vizinha".
E aqui está ela, no seu triciclo e com a caixa da chucha na mão, fotografada pela tia Guida.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Patanisca

Fui pagar a renda da minha casa. Claro que isto não teria história nenhuma, não fosse o facto de o meu senhorio ter uma tasquita ao Cais do Sodré e ser precisamente aí que eu vou entregar o cheque todos os meses. Bem, nem mesmo assim seria digno de nota, não fosse o meu senhorio um senhor galego muito simpático que, na sua gentileza, faz questão de me servir um "pastelito" e um "suminho", não importa a hora a que eu lá vá (serve "suminho" às meninas, um copo de vinho ou de cerveja aos rapazes). É aí que está o busílis: esta manhã, o pequeno-almoço ainda acabado de chegar ao estômago, o meu senhorio serve-me um prato de calamares (fritos) e outro com pataniscas (fritas, evidentemente). Nunca sei muito bem o que fazer nesta situação, portanto tento o meio-termo e como qualquer coisita, para não fazer a desfeita. E assim, às 9h30 da manhã, estava eu a comer de faca e garfo uma bela patanisca de bacalhau. Justiça seja feita: era mesmo muito saborosa.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

De volta ao trabalho

Após uma abstinência de quase dois meses, mergulhei em meados de Outubro na tese de mestrado. Desde esse dia, já passou praticamente um mês e é com alegria que anuncio que me começo a entusiasmar seriamente pelo projecto. "Só agora?", podem perguntar. Pois é, só agora é que lhe começo a dar uma forma concreta e a vê-lo com outros olhos. Penso que o afastamento de dois meses acabou por ser positivo.
Já em Lisboa, voltei em força ao trabalho com os meus clientes, nomeadamente ao meu primeiro cliente internacional, que me encontrou graças ao meu site. Por esta não esperava, mas fico feliz que assim seja.

Chove

Desde que cheguei a Lisboa que tem chovido quase ininterruptamente, e todos sabemos que a chuva em Lisboa é um tema inesgotável de conversa. É curiosa, contudo, a variante subtil da temática que escutei hoje no autocarro: um par de amigos discute como de seca extrema passámos tão rapidamente ao cenário oposto. Esta variante é claramente uma melhoria em relação à clássica converseta do "vai sair?" e "ó chefe, abra a porta aqui atrás!".

Outra vez o Ceviche, que e muito "fitxe"


Ceviche Super Power no La Mar, Lima.

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Algumas imagens de Buenos Aires


Domingo em San Telmo.


A zona moderna de Puerto Madero, algo parecido com as Docas lisboetas (em intenção, não em dimensão).


A Casa Rosada, sede do Governo.

Coisas da Argentina de que vou ter muitas saudades

O gelado de banana do freddo é uma poesia. E também vou ter saudades da tarte de manga e côco da Carla. E dos "envios a domicilio".

Coisas da Argentina de que não vou ter saudades

Alguns autoclismos de Buenos Aires que não funcionam bem (e não vale a pena explicar mais).
O vocábulo usado lá para designar “sanita”: vá-se lá saber porquê, é “inodoro”.
Não vou ter saudades de comprar um frigorífico, uma tarefa bem difícil que necessitou de três tentativas – e finalmente tivemos sucesso porque estava a chover. É um processo complicado: depois de escolhido o modelo e confirmando que existe um exemplar em stock, chegou o momento do pagamento. Existe uma série de incentivos para o consumo, tal como infinitas prestações sem juros e descontos valentes para quem paga de uma vez só (ainda que a crédito). Ora estes dois maçaricos, vindos da terra dos multibancos e do “verde-código-verde”, estavam convencidos de que aqui seria algo semelhante. Não podíamos estar mais longe da verdade: os movimentos com cartão de débito têm um limite máximo por dia, limite esse que só compra meio frigorífico. Teríamos então de fasear os pagamentos em vários dias e deslocar-nos à loja igual número de vezes. Além disso, a mercadoria só seria entregue quando todos os pagamentos estivessem efectuados. Ora bem, tentemos o cartão de crédito e paga-se tudo de uma vez. Bem, mas o cartão retira todos os descontos que faziam da escolha daquele modelo naquela loja uma opção realmente vantajosa. Mudança de loja. Repetição do processo. Pagamento com cartão de crédito necessita de documento de identidade que ateste a nossa boa fé. Dado que o passaporte do Paulo estava retido para trâmites do visto, teria de ser o nosso velhinho BI. E não. BI, ainda que cheio de selos brancos, plastificado e em boas condições, não serve. Desistimos e fomos jantar ao restaurante Los Pinos, instalado numa antiga farmácia e onde a comida é booooooooa. Os meus tagliatelle al verdeo, regados com um bom vinho argentino, estavam deliciosos e ajudaram a minimizar a frustração. Passaram-se alguns dias (e mais tentativas) até que, num dia de muita chuva, a loja aprovou rapidamente o desconto proposto, e, com a correspondente autorização bancária (e passaporte) lá fizemos a transacção. Tivemos de comprar o modelo acima do que queríamos, dado que estava esgotado. E a partir daqui começámos verdadeiramente a sonhar com arrumar a manteiga e comprar víveres frescos e – como também ia uma máquina de lavar roupa – finalmente ter as camisolas sem cheiro de detergente industrial. Mas aventura que se preze não termina assim tão facilmente, e qual não é o espanto quando constatamos (eu e os dois senhores das entregas) que o frigorífico não passa pela porta de serviço e como tal não passa para o monta-cargas. Entra na porta principal, mas não no elevador, nem sequer na porta que dá acesso à escada de serviço. Pura e simplesmente, o frigorífico não cabe. Pânico. “E se, talvez se, talvez desembalando o frigorífico aqui no rés-do-chão...”. Uma meia hora depois e quatro lances de escadas mais tarde lá chega o bendito electrodoméstico, sem um arranhão sequer, ao quarto andar da Rodríguez Peña. Tenho de agradecer infinitamente a quem carregou aquele enorme monstro até lá acima e apenas me pediu “un vasito de água, señora, seria perfecto”.

Decorações de Natal

Hoje cheguei a Lisboa, depois de uma viagem sem pregar olho, um transfer em Malpensa que mais parecia gado num curral e deparo-me com um aeroporto lisboeta completamente decorado para o Natal. Tentei determinar a data, um pouco baralhada com a diferença das estações entre norte e sul. Estamos no primeiro dia de Novembro, o que nos deixa a mais de mês e meio do Natal. Hmmm. Esta deve ser uma das poucas coisas em que os portugueses trabalham com antecipação – dizem-me que muitas das decorações estão postas desde meados de Setembro. Não duvido, um destes anos as luzes não desceram da Ferreira Borges – e assim um atraso se transformou em avanço.